quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Chocolate


Bruno Aronso Tavares tinha uma cor de pele diferente, tanto que seu apelido desde criança era Chocolate. Sempre bem vestido e perfumado, tinha uma lábia impressionante que conquistava até a maior das lésbicas. Por várias vezes o vi escrevendo bilhetes para amigos nossos enviarem para suas pretendentes. Sua escrita era infalível, inegável, irrefutável, única. Seus poemas deixavam qualquer mulher sonhando de pé e sua prosa abria um sorriso tão grande que era díficil qualquer tragédia entristecê-las. Mas Chocolate tinha um sério problema. Ele não comia ninguém!

Tudo corria bem. Tudo parecia caminhar para o gol mas sempre, sempre, batia na trave. Não caberia nesse post todas as milhares de desculpas que Chocolate já ouviu. Vai de "tô com dor de cabeça" a religião, de "não quero perder um amigo" a menstruação, de "não tenho vagina" a convulsão. Seu papo era tão bom que as mulheres só queriam conversar com ele. Mesmo as que, por pena e compaixão, queriam levá-lo para a cama, na hora H, iniciavam novo diálogo sobre o tempo, política, física quântica e até futebol. Pobre coitado sem coito.

Mas a vida não deixou de brilhar para o Chocolate. Sua habilidade começou a ser reconhecida e sua fama atravessou inúmeras barreiras (só não atravessou o que ele realmente queria). O que todo o mundo não acreditava se personificou no Chocolate, um homem com bom papo que era um bom ouvinte. Isso nunca tinha acontecido na humanidade.

A fama trouxe muito dinheiro. Seus papos valiam ouro e vinham mulheres de todos os continentes conversar com Chocolate. Ele só sabia português mas elas não queriam nem saber, fingiam dialogar só pelo prazer de conhecer aquele homem. Com o tempo ele foi se acostumando com esse Karma e fez para a vida uma limonada, por vezes azeda, mas sempre uma limonada.

Hoje, com 69 anos, Chocolate ainda é uma unanimidade entre as mulheres (nunca entre a mulher) e de tempos em tempos ele abre um jornal ou uma revista e lê, com um sorriso maroto, que todas as mulheres, em algum momento da vida, preferem chocolate ao sexo.

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